Leituras do Domingo de Ramos, Ano A:
Elio Passeto, nds

Bom dia a todos e bom domingo. Celebramos hoje o Domingo de Ramos, a festa que anuncia a entrada da semana da Paixão, em direção à Sexta-feira e finalmente, à Páscoa da ressurreição do Senhor.
Primeiramente, temos a leitura de introdução de Mateus, cap. 21: a apresentação messiânica de Jesus. Segue a leitura de Isaías, cap. 50 e novamente Mateus, cap.26-27, que relata toda a paixão de Jesus.
O tema principal é, a grande perspectiva relacionada ao messianismo. Evidentemente a leitura é compreendida num sentido retroativo, isto é, primeiro os elementos aparecem, os fatos acontecem e depois é feito a leitura. Isto é, primeiro Jesus é morto e ressuscitado e, posteriormente, passamos a entender segundo a tradição de Israel, a espera messiânica. E busca-se também explicá-lo seguindo as interpretações conhecidas da época, a partir do texto bíblico. Sobretudo baseado na espera messiânica, já presente amplamente na tradição de Israel.
Aqui temos nestas leituras, duas perspectivas muito claras: na primeira, é preciso ter presente a topográfica bíblica. Primeiro, Jesus estava em Betânia, no alto do Monte das Oliveiras. Segundo o texto, Jesus desce, é apresentado como Messias e entra em Jerusalem. Depois ele retorna de Jerusalém ao vale do Monte das Oliveiras. Em seguida Jesus novamente retorna ao Monte Sion (Jerusalém). Terminando a Páscoa, ele retorna ao Monte das Oliveiras. Ele é preso no Monte das Oliveiras e, então, sobe o Monte Sion, onde será julgado, condenado, crucificado e morto (Jerusalém). Uma vez ressuscitado, ele retorna ao Monte das Oliveiras para sua acensão ao céu.
Para dizer que há uma necessidade de trabalhar o texto sobre este evento importante, e isto deve ocorrer no Monte das Oliveiras. A tradição de Israel afirma (profeta Zacarias) que a manifestação final deve ocorrer no Monte das Oliveiras. Não é o objetivo dar uma explicação histórica dos eventos da morte e ressurreição de Jesus, pois estes elementos se encontram no nível da fé. A fé cristã é baseada numa experiência pós-pascal.
Uma vez iluminado pela experiência do ressuscitado, faz-se uma leitura retroativa sobre o evento Jesus, desde seu nascimento até sua morte. E toda esta trajetória feita para apresentar Jesus deve ser feita segundo as Escrituras. Quando falamos das Escrituras, não estamos necessariamente limitando-nos ao texto. Pois, nesta perspectiva, podemos trabalhar toda uma tradição e oralidade da Palavra de Deus, e sua explicação que, por vezes, não conhecemos.
O primeiro texto de Mateus 21: “Quando se aproximaram de Jerusalém.. Isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta: “Digam à cidade de Sião: ‘Eis que o seu rei vem a você, humilde e montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta’ “. A realidade de Jesus combina com o texto. A entrada triunfal de Jesus deve acontecer para cumprir um evento que fora anunciado na vinda do Messias. No final, vemos a mesma coisa: “A multidão que ia adiante dele e os que o seguiam gritavam: “Hosana ao Filho de Davi!” “Bendito é o que vem em nome do Senhor!” “Hosana nas alturas!” O texto é colocado sobre o evento Jesus. A leitura que segue é Isaías, cap. 50. É interessante porque se encontra um modelo de Messias, que é totalmente diferente daquele da linhagem de Davi, aquele que fará a guerra, que lutará e liderará. “Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam… Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio.” Bem, este modelo é também um modelo que Israel esperava. Claro que o próprio Israel pode ser interpretado como o servo sofredor. Mas em nosso caso é atribuido a Jesus, enquanto Messias. Isto é, um Messias apresentado como alguém que vai sofrer.
O Salmo 21: “Todos os que me veem escarnecem de mim, estendem os lábios e meneiam a cabeça: «Confiou no Senhor, Ele que o livre…” É esta leitura que é aplicada justamente a Jesus na cruz. Quando vemos que Israel já havia desenvolvido a ideia de alguém que deveria interpretar esta realidade, à luz da ressurreição, esta realidade cantada no Salmo é atribuída ao próprio Jesus.
A segunda leitura de Paulo (Filipenses) apresenta justamente este conceito divino: um Messias que é o próprio Deus. “Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos”.
Esta leitura também tem em Daniel, cap.7: a figura de alguém que será honrado e reconhecido pelas nações.
Agora temos uma mistura de Isaías e Paulo: em Isaías é o servo sofredor, mas também aqui é o próprio Deus. Falo de maneira breve, mas é importante ter em mente: a teologia do Jesus ressuscitado torna-se possível porque a tradição judaica já havia trabalhado todos estes elementos, pois os encontramos nas próprias Escrituras, e, às vezes, eles não estão no texto em si, mas nas interpretações do texto. A oralidade também é Palavra de Deus tanto quanto as Escrituras.
O Evangelho é um texto longo, mas penso que é bom manter esta ideia que já vimos anteriormente. Há elementos que foram adicionados para corresponder à espera messiânica e o Messias deveria estar de acordo com as Escrituras. Por isto que Judas Iscariotes vai vender Jesus, pois já temos esta profecia em Jeremias, que diz que ele seria vendido por esta soma de dinheiro.
Depois temos a celebração da Páscoa, que significa justamente o dia da libertação dos judeus. Jesus entra nesta perspectiva da Páscoa eterna, final. Ele retoma toda a dificuldade humana e divina simultaneamente. Isto é, a realidade encarnada de Deus é bem representada neste texto, pois Jesus sofre verdadeiramente. Não é simplesmente ilusão ou aparência. Deus se faz carne, mas mantém sua realidade divina. No final, há um debate se é falso ou verdadeiro, se ele morreu e realmente ressuscitou, como isto ocorreu.
Toda esta discussão será apresentada no domingo próximo (Páscoa). Mas já encontramos este diálogo entre o homem encarnado e o divino. Jesus que lê o Salmo: “Eli, Eli, lama sabactáni?”, (Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?). Uma realidade totalmente presente naquele que é encarnado. Ao mesmo tempo, ele tem esta dimensão de confrontar a morte e vencê-la por meio da ressurreição.
Portanto, segundo Paulo (Coríntios 15) Jesus nasceu, morreu e ressuscitou segundo as Escrituras. Portanto, é preciso fazer atenção ao ler as Escrituras e buscar entender o que está por trás do texto, que nem sempre é evidente. O texto não busca contar historia, mas à luz da ressurreição as comunidades de fé em Jesus ressucitado vão buscar nos textos e na oralidade dos textos o que corresponderia à vinda do Messias e portanto o relato está de acordo com tradição religiosa de Israel. E é essa tradição que pode iluminar nossos textos e endinamentos oriundos do Novo Testamento.
Desejo a todos uma boa semana de preparação para a Páscoa do Senhor. Boa semana e bom domingo, obrigado!

Tradução do francês feito por: Fr. Joel Moreira, nds